Rescaldo da Lebre e da Tartaruga

Passei os dias todos a pensar. É só um livro, mulher. Foca-te! Dez, páginas!? O que é isso?! É só um livro. Chega sexta. Caminhada habitual, vou ter com o homem da viola ensaiamos, éh pá a coisa corre bem. Confiante. Siga. Nem penso muito nisso. Vou armada com a cenoura. Chego à escola. Na sala vejo os pais e filhos, e ao fundo dois sofás com candeeiro em destaque. " Disse algumas asneiras e depois um "mas onde é que eu me vim meter! Mas o que é isto?! Mas o que vem estas pessoas fazer aqui a esta hora?." Começo a sentir um nervoso miudinho. Vou ter com a educadora do miúdo, éh pá Elsa o melhor é sermos os primeiros e despachar logo isto. Diz-me ela que somos os últimos, porque com viola é mais giro, para fazermos o encerramento do serão do conto. Giro uma pinoia, penso eu. Giro, giro é pôr-me a andar. Sentei-me assisti às histórias. Umas engraçadas, outras nem tanto, mais enfadonhas. Vi uma peça feita por crianças. Nunca tive duvidas. São o melhor do mundo, o melhor!!! Eu se fosse aqueles pais, tinha ficado completamente babada, e não só pela peça em si, mas pela vontade de participar, que não é nada fácil, estar à frente de gente graúda. E a inocência deles...É muito amor. Vejo pessoas a ir embora e penso, menos um, a coisa não está mal assim. Os putos quase a dormir e penso, o melhor é dizer que fazemos para a próxima. Sou tão maricas, pá. Chega a nossa vez. Sentámos, olho para o Gonçalo e pergunto umas três vezes se estava pronto...acho que estava a perguntar a mim própria, ou estaria a dar tempo para que sei lá acontecesse algum imprevisto. Mas nada. Começámos. Senti perfeitamente a minha voz tremula. Não vi ninguém à minha frente. O meu filho quis interagir e os filhos do Gonçalo também e isso ajudou. Ás tantas tinha de por-me a pé e andar pela sala e só pensava, na coragem necessária para tudo aquilo que tinha pensado e ensaiado. Na casa do Gonçalo só os dois, pareceu-me tão mais fácil. A coisa foi correndo e pensei que se lixe, atropelo um puto ou dois (estou a brincar), levanto-me, o meu filho vem agarrado a mim, e depois ao colo, depois no chão e acabámos. Ufa....que alivio. Só um tempo depois consigo ver as pessoas à minha volta, e consigo ficar mais calma. Parabéns e mais não sei o que. Só me sai "É que nunca mais me apanham".

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