Tenho em mim um baú de recordações. Garrafas cheias de saudade, que vou enchendo e guardanto. Coisas que vivi, que nunca esqueci. Isto do facebook, é engraçado. Aproxima quem está longe, quem não se fala há mais de 18 anos. Quem quase nunca se falou. Que só se conhece de cartas. Que só se conhece de sorrisos. De dar a mão. Hoje fazes anos e lembro-me bem. Tão bem. Andar a correr pelas vinhas a fora contigo e com as tuas irmãs. De contar os dias para chegar aí. De tremer só de pensar que te ia ver. Era tão miúda. Tão miúda. Lá estavas tu. Alto, loiro, olhos verdes e com um sorriso lindo, tímido. Éramos um para o outro em silêncio, numa troca de olhares, de cartas. Faziam sempre com que tivéssemos juntos. As irmãs e as primas. Porque eu engraçava contigo e tu comigo. É culpa tua esta coisa de viver apaixonada por cartas românticas. Foste tu que começaste. Eram doces, perfeitas, amorosas. E eu tão tímida, tão envergonhada, que não conseguia falar. Não consiga dizer nada. De tanto tremer. Era um processo engraçado, ficava um mês...e o que eu mais gostava era quando estava a chegar ao fim...porque a timidez levava tempo a passar. Se levava. E no fim, mais liberta para te falar...tinha de vir embora. Éramos uns miúdos. Seguimos caminhos diferentes. Tão diferentes. Mas continuamos a olhar. E a não falar. Nunca falamos. Olhamos, olhamos. É bom recordar-te... É bom recordar. Fazes parte de um Douro muito especial para mim. O meu Douro.

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