Cenas e as outras cenas ditas normais

Ontem saí. Nada de novo. Há 20 anos que conheço bem para onde vou. Porém, ontem desagradou-me. Um pouco. Sou esquisita, bem sei. Conheço os Dj´s da casa e quando trocam nota-se. O seguimento é outro. E dizem-me sempre que é bom mudar. Pois que sim, neste caso não. Gosto de ouvir aquelas musicas especificas. Aquela musicas. Paranoias. Tive de andar de um lado para o outro. Não, a mulher fatal era loira, eu nem de longe nem de perto. Mas realmente é triste ver quando as pessoas não se enxergam, fazem coisas parvas, incomodam. Mas se por um lado há pessoas assim desagradáveis, depois do outro lado as pessoas simpáticas que se tornam nossas cúmplices e nos dizem, não te preocupes que não o deixamos passar. Pessoal porreiro. Nisto chegam umas miúdas ao pé de nós e por ali ficam. Percebo perfeitamente que são mulheres de danças artísticas por assim dizer. Uma irritou-me pela atitude. Mal educada, bruta, desagradável. Não gosto de facto de pessoas mal educadas. E as mulheres nisso, em discotecas são as piores. A sério. Os homens são de facto mais atenciosos. Nisto percebo um zum zum no meu grupo e risota. Dizem-me que ela, que estava de costas para mim, a mal educada, era um gajo. E eu jurava que não. Cabelo, delineador, brincos, unhas enormes. Nota-se que está em transformação, ou seja num processo a mudar o corpo. E dá-se o preconceito. O diferente do normal. As coisas que me dá para pensar numa discoteca, mas enfim. Isto do " normal" tem muito que se lhe diga. Não me identifiquei com as piadas o gozo. Talvez porque eu também não sejam "normal" perante a sociedade. O que é isto do ser normal? Ser homem e mulher assumidos perante uma sociedade hipócrita? Negar a sua essência? Ser magro? Bonito? Alto? Medidas certas? Tudo isto do ser normal me confunde. Por vezes magoa. E eu irritada por ela estar a ser desagradável e a dar encontrões, não mudou a minha irritação, seja por ela ser um ele ou uma ela. Referi-me aqui a ela, porque é assim que se assume e é assim que no meu ver deve ser tratada. Mas dei por mim a pensar. Na infância daquele ser. Num corpo que não era dela. No sentir-se "anormal", errada. Numa luta externa e interna. Por vezes a interna é mais violenta. Nem falo de todas as mudanças físicas e operações que deverão ser dolorosas. Mas e a cabeça? O discernimento? A mágoa, porque existe uma sociedade que trata os "não normais" como atrasados, como aberrações. E gozam, pisam, enxovalham? Somos de facto muito pequenos. Muito poucachinho. E penso e olho para ela e desejo que ela sinta toda aquela confiança que transmite. Que mude por ela, para a felicidade dela. Porque os ditos "normais" não passam de cobardes por muitas vezes, deixam-se ficar na sombra, no medo de ser diferente, de ousar, de se assumir. E digo muitas vezes é a sociedade que temos, mas caramba a sociedade é feita por nós. Nós é que temos uma mentalidade ignorante, fechada, mesquinha. Não digo que eu própria também não repare, que reparo, que me apercebo, mas não consigo fazer disso motivo de piada. Se calhar em tempos já o fiz, não me recordo. Mas se o fiz, envergonho-me. É de lamentar fazer sofrer, quem já sofreu e se calhar ainda sofre. Não se perceber o que aquela pessoa deve ter passado, a luta. Ela e todos os outros. Há uma realidade dura, para os ditos diferentes dos normais. E isso dos normais irrita-me. Porque não é isso que nos define. Não é isso que nos pode definir. Somos diferentes, o que é bom, muito bom. Seria uma grande seca sermos todos iguais. Era o mesmo que pedir um arco iris de uma só cor. Não faz sentido. E o bom bom, é ser feliz, deixar ser feliz, deixar viver.

Comentários

Anónimo disse…
Au aplaudo quem assim se impõe perante a sociedade, teve "tomates para isso" mas de facto de início, houve um pequeno "choque" entre nós, mas eu depois passei bem a noite com isso.

Beijos Sol :)

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