Gostava de ser aquela pessoa que fui

E que já não sou. Fui muito mais inocente, do que sou agora. Fui já mais feliz do que sou agora. Já fui melhor pessoa. Não é que não tente não o ser. Mas antes era mais pura. Acreditava mais nas pessoas. Hoje, quase nada de bom me surpreende, ou quase nada. Ou sou muito desconfiada. Mas muita coisa me desilude. Tenho saudades de quem fui. É o que sinto. De me rir, de poder ser como sou, na minha essência. E sinto-me distante de mim própria. A vida dá muitas voltas. Muitas. E cada vez mais tenho a certeza, que o provérbios tem algo de verdade. Vejo por mim, a fazer o que me fizeram. Não o faço de forma consciente, mas pensando, e analisando, percebo, que todos nós recebemos o que damos. E quando não damos, não recebemos. Esta é uma das grandes certezas. Que colhemos mesmo o que plantamos. E não há milagres. A vida pode demorar, pode dar voltas. Mas tu passas exatamente, por aquilo que fizeste os outros passar. Ontem dei por mim, a responder de forma afetuosa e consciente, por respeito, quando na verdade poderia ter respondido e bem, como muitas vezes me responderam. Ontem poderia pagar na mesma moeda. Exatamente. Dar a provar do veneno que me deram. Mas tenho algo em mim, se não gosto que me façam, eu não faço aos outros. E não o fiz. Mas a vida, faz de nós piões. E ontem, não tive nenhuma dúvida disso. Nenhuma. Ver-me na situação oposta. Como a vida dá voltas. Como nos obriga a crescer, à vezes ficarmos frios. Indiferentes. É preciso um esforço em nós, para não nos entregarmos à amargura da vida, das coisas menos boas. E aí aparece o melhor que a vida tem para dar, as pessoas. Eu digo sempre que nada é por acaso. Em dias maus, aparecem pessoas maravilhosas. Aparecem-me palavras de conforto. Aparece algo que me agarra um pouco aquilo que fui, e que desejo muito ser. Não sou e não me identifico como um ser frio. Sou um ser de amar, de sentir, de afecto, e quero ser mais, mais como sempre fui. E se me distanciei desse caminho quero muito voltar. E o maravilhoso, é existirem pessoas que nos dão a mão, muitas vezes sem saberem, para darmos aqueles passinhos, para nos fazerem sentir seguros. Para sabermos que somos capazes. Que não vamos ficar fechados em nós para sempre. Sou uma pessoa crente. Desde de miuda. Sempre acompanhei a minha mãe. Ontem, como todos os anos, desde que perdeu a visão, assumi o lugar dela numa procissao das velas. Todos os anos vou. É algo que me fascina. Desde miuda. Já estive em Fátima e é algo poderoso, que me faz chorar e nem sei porque. Ontem lá fui, com o meu companheiro. Pergunta-me ele, oh mãe, vamos onde? Disse-lhe que íamos acompanhar uma senhora de uma igreja à outra, porque ela não podia ir sozinha. E perguntei-lhe o que ele achava. Ele, com os seus quatro anos, diz que parece bem, porque a menina não pode ir sozinha. Fez-me imensas perguntas, as quais respondi. E depois disse-lhe, hoje vens comigo, e quando a mãe for velhinha como vai ser? Disse-me prontamente, venho eu. Fomos os dois. É uma coisa que só sente, quem tem fé. Pensamos um pouco em todos os nossos, os que não são nossos. E encontro sempre um pouco de mim, nestas coisas, porque sempre o fiz com a minha mãe. Eu pequena, sem noção do que me esperava. E sei lá do que me espera. Mas depois olho para ele, e tudo me parece lindo. Perfeito. Porque o é. Ter o nosso amor perto, não pode ser melhor que isso, só quando ele me abraça, ou dá beijinhos, ou com aquelas lamechiches que sabe que eu gosto. E tenho saudades do que fui, mas que revejo nele. É ele que me faz ver o quanto somos complicados, o quanto perdemos tempo. Tempo que não temos. Porque todo o tempo do mundo, é pouco. Para mim. Quero muito ser uma melhor pessoa. Queria muito, e quero ser mais e mais de tudo um pouco. Que não consiga hoje, conseguirei amanhã. Um dia de cada vez. Que sou muito melhor porque o tenho. Que vou ser melhor porque serei mais feliz. E ser feliz é tudo o que nós devemos tentar ser. Mesmo que por vezes, tudo nos pareça cinzento, tudo nos pareça perdido, como uma pessoa muito querida me diz, o importante é estar em jogo. O importante é viver, aprender a gostar de viver. E tudo vai correr bem! Eu sinto que sim. Mesmo que não seja como queremos. Até porque aquilo queremos, muitas vezes, não é o que nos faz mais felizes.

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