Me, myself & I

Hoje era um daqueles dias que apetecia ter chegado a casa cedo e ter ido diretamente para a cama. E sempre que há um desses dias, tal não acontece. Hoje não foi exceção. Chego a casa quase às dez da noite. E não me apetece descansar. Nem cama. Hoje foi um daqueles dias, o dia do medo. Do medo que vive em mim. Medo de viver, medo de perder, medo de amar, medo de me apaixonar, medo de sofrer. Sempre ele, o medo que por vezes me assalta e me deixa meia perdida. Faço algumas técnicas de respiração, dou inicio a alguns monólogos. Eu sempre comigo, penso que mais ninguém aguentaria ouvir tamanhas barbaridades. Mas às vezes sou assaltada por elas. E hoje, foi mais um dia em que por estar mais cansada, a fragilidade veio ao de cima. E sinto-me de facto, uma pessoa má, uma pessoa egoísta, uma pessoa que não é tão boa pessoa como desejaria. ou como pensa que é. Estou encarregue dela, e todas as sextas a mesma rotina, o cansaço assola-me e eu perco o raciocínio e a paciência. E sinto-me uma besta. Paro, respiro. E olho com olhos de ver. E vejo. E sempre que vejo, o que não quero ver e que empurro com a barriga dá-me um baque daqueles, bem fortes. Como se estivesse num ringue, levasse um murro e ficasse K.O. E depois arrependo-me. Fico fula, por não saber separar. E volta o medo, volta tudo. Saio com a voz rouca, tento fugir para ninguém me ver. Numa atitude cobarde tento esquecer o que sinto, tento fingir que não vi. É-me mais fácil assim. Sigo caminho e paro onde sei que me acalmo. Porque sou só eu e ele. Só nós. Numa conversa pouco ortodoxa, assim ao meu jeito. E pergunto-lhe... sabes quem é a Lúcia, sabes como ela está? Sabes que precisa de ti. E a minha mãe, já viste como ficou? Qual a razão para tudo isto? E oiço ao fundo um burburinho, mas continuo. Continuo as minhas perguntas. E continuo a interrogar o porque de tudo e um par de botas. Confesso todo o medo que tenho e como isso me deixa transtornada. E falo-lhe de como afinal reconheço ser um pouco hipócrita. Admito. Defendo a verdade acima de tudo e minto a mim própria. E constato que prefiro assim, custa-me menos. Pelo menos a curto prazo. Não consigo bater de frente. Questiono qual o caminho a seguir. Sei que divago. Mas sinto que me ouvem. Que me ouves. Alguém. Sinto isso. E isso acalma-me. E também me emociona. E fico sempre a chorar. Sempre. Sinto-me de coração apertado, sem perceber porquê, nem a razão. Ou talvez assustada por algumas vezes me sentir perdida e só. Saio, com menos peso é um facto. Mais calma. Encontro-me com amigos, perguntam-me como estou, e digo que estou bem. Lá está,  é mentira, mas de que serve a verdade? E de facto a vida não pára e todos nós temos as nossas coisas. Mas como digo sempre, a vida dá-nos sem nos apercebermos bem disso. Há sempre alguém que nos aconchega. Eu ali, perdida nos meus pensamentos e um pouco só, embora rodeada, mando uma mensagem que estava em falta. Eu não falho, mas hoje demorei. A cabeça não dava para mais. E mandei, de coração. E recebi o que precisava naquela altura, sem dizer nada a ninguém. Apareceste com uma flor que me confortou o coração. E fiquei bem. Porque é bom não ter de falar, e é bom receber, é bom irem ao nosso encontro sem termos de pedir. Coisas simples preenchem-me. Funciono bem assim. Gosto de coisas simples, pequenas, mas diretas, sinceras, do coração. E soube-me tão bem. Gosto muito de ti minha querida Filipa. Muito. E num dia que poderá também não ser o teu melhor, foi no dia que tornaste o meu melhor. Que me fez esquecer um pouco este medo. Que por vezes teima em controlar, em deixar-me assim à toa. Assim, assim. Sem jeito, de maneira nenhuma.
 
Eu sei que preferiam umas linhas sobre a Conchita...mas esqueçam, lá isso.
 
Para ti:
 

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