Quando desistir de viver, parece ser mais fácil, menos doloroso

Nunca fui pessoa de criticar alguém com depressão. Muito menos alguém que desabafa coisas angustiantes e até assustadoras. Penso que não tem noção da realidade, ou seja , penso que vivem numa realidade deturpada. Na realidade delas. I have been there and have done that. Não  me é estranho. A minha mãe viveu numa depressão 30 anos, e quando apareceram as dificuldades, entregou-se. Foi mais fácil, dentro de toda aquela dor. Se calhar foi a dor menos dolorosa, foi mais fácil morrer aos poucos, entregar-se. Para ela terá sido assim. Só ela e Deus é que sabem o tormento que foi. E dói, custa muito, não ter percebido em miúda o que se passou, gostaria e devia ter feito melhor. Hoje sei, que há 20 anos atrás devia ter sido mais madura, menos egoista. Devia ter sido amiga da minha mãe, devia ter ido com ela ao médico. Não fiz o suficiente. Acho que vivi focada em mim, algum tempo, e fui extremamente egoista. Mas percebo a desistência e não critico, embora me custa muito a aceitar, porque queria ela para mim. Eu também já pensei assim. Eu também já desejei morrer, porque era mais suportável, que viver. Não que não se saiba lidar com os problemas, só estamos é cansados deles. Estamos desgastados. E ás vezes são tantos, que não nos deixam descansar. Achamos que estamos no nosso limite, e que viver assim, não é viver. No meio desta espiral, é importante procurar-se ajuda. É importante falar com amigos. É muito mais importante os amigos estarem atentos, alertar, tentar ajudar. Incentivar a procura de um médico, de um profissional. No outro dia, ouvi duas pessoas, novas, que a vida também não tem sido fácil, esmorecidas. Com os mesmo pensamentos que eu já tive. A dizerem que preferem morrer. Não que não tenham razões para viver, mas é o cansaço que se apodera. É a descrença em dias melhores. É entrar numa espiral que por vezes não se consegue sair. E recorre-se ao comprimido. Num tipo de auto medicação, porque não se tem tempo para parar, para ir ver um profissional. Ás vezes porque se desvaloriza. Não se podem desvalorizar. As pessoas dão sinais de alerta. As coisas não acontecem por acaso. A depressão é um assunto sério. E tentei falar, tentei ajudar, dei exemplos e como sempre disse, procurem ajuda. Ajuda, façam psicoterapia. Trabalhar a vossa pessoa, aprender a exorcizar esses demónios. Uma vez na espiral, quase sempre lá. Podemos estar a tona, mas a luta é constante. E é aprender a conhecer-nos, tentar agarrar nas coisas boas, por menores que elas sejam. Até por ridículas que pareçam. No meu processo de psicoterapia, dei por mim, constantemente a ver um filme, vi vezes sem conta. E não sabia o porque. Sentia-me bem. A Carmo, a minha psicóloga, depois de eu lhe dizer que me gozaram por isso, diz-me, se te sentes bem porque não? Prejudicas alguém? Porque não? E é o que digo a todas as pessoas. Mesmo que não tenha explicação, se algo te faz sentir bem, não te prejudica a ti e aos outros, porque não? Por isso não critico. E quero muito ajudar. Quero muito que não se seduzam pela sensação que será mais fácil desistir de tudo. Porque o preço é muito alto.

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