Não se diz a ninguém, se eu consigo tu consegues
Eu já o disse. Mas não se diz. E cada vez mais, acho e sinto que não se deve dizer. Porque há pessoas que não conseguem. Não por serem inferiores àquela pessoa que o diz, mas porque não tem o que é preciso para conseguir. Outras, conseguem, mas levam o dobro do tempo ou levam o seu tempo. Se assim não fosse, não existia tanta gente a fazer psicoterapia. Não se pode achar que as pessoas são feitas à nossa imagem. Há pessoas que crescem e que desenvolvem competências, há pessoas que tem ferramentas para enfrentar tudo e mais alguma coisa. Há outras pessoas que não. Talvez por um conjunto de fatores, ou talvez porque não tem as mesmas experiências, ou talvez porque a vida não é igual. E a vida, é diferente para todos. Uns aprendem, outros vão aprendendo. A vida marca, a todos de alguma forma. E por isso, não devemos viver sozinhos, devemos saber ajudar. Devemos sempre motivar o outro, o que está ao nosso lado. Sempre. Mesmo que nesse momento, tu próprio nem te consigas ajudar. Mas se podes ajudar o outro, devemos sempre fazê-lo. Talvez todo esse processo também te ajude a ti. Mas nunca digas a outra pessoa, como resposta ao seu desabado, os seus defeitos, tipo que ela é uma mulher de drama, que é uma mulher neurótica, que é uma mulher hipocondríaca e outras coisas mais. A pessoa confidenciou-te algo, ficou exposta, e não precisa disso. Ela mais que ninguém sabe a sua verdade. Mas até aceito, que se diga à pessoa que ela o é, desde se compreenda o que se vai dizer e a responsabilidade desse acto. Mas há todo um caminho para a responsabilidade de uma resposta. Aceito essa critica, quando depois dessa critica, vem a parte da ajuda a superar, do querer ajudar. Não é dizer, tu és isto, e está feito. Pior ainda, é dizer que também se tem problemas e não é por ai que estão como nós. Não se faz. Um problema meu, não tem a mesma dimensão que o teu. Porque não o sente. Não sabe. Não conhece a realidade. Acho sinceramente que as pessoas devem colocar-se no lugar da outra pessoa. Não são poucas as vezes, que eu tento pensar como a outra pessoa, e mostrar-lhe os pontos positivos que ela tem. Porque reparem, se a pessoa para ajudar a outra que está à sua frente só mostra o quanto ela é espetacular, imaginem como fica a pessoa que ouve isto. Só pode pensar, que não tem solução, começa a inferiorizar-se porque não consegue ser como a outra pessoa. Não gosto de pessoas assim. Gosto de pessoas que buscam o melhor na pessoa que está à sua frente. E elevam as coisas boas nessa pessoa. Um já conseguiste, vais conseguir de novo, por A, B, C. Trabalham a pessoa. Não se projetam nela. Eu afasto-me de pessoas assim. De pessoas que não ouvem o outro, que só se enxergam a eles próprios. E não aceitam o outro como ele é, mesmo que digam que o fazem. Para mim, dizer " se eu consigo tu também consegues", é dizer que se tu não conseguires serás sempre fraca. Menos merecedora. E as coisas não são assim. De todo. Eu lidei com uma prima, que ironizava as pessoas sofrerem de depressão, chamava de preguiçosas. Viver é a melhor lição que há na vida. Hoje a pessoa sobre uma pré-depressão. Teve de chegar a isto, para dar valor. E nunca lhe lembrei, o quanto ironizava, a dor que sente é o suficiente. Ajudo-a sempre. Mas de facto, as pessoas não devem falar sem conhecimento de causa. As pessoas não passaram pelas situações, não sabem. As pessoas não sentiram, não sabem. E se não sabem o que dizer, o melhor é ficar calado. E mesmo que tenham passado, algo semelhante, semelhante não é igual. Porque quem realmente precisa de ajuda, não precisa de termos de comparação. E todos o que comparam problemas, não sabem o que fazem. Ressalvo, quando se fazem termos de comparação com intuição de inspirar. Inspirar alguém a fazer algo, é totalmente diferente. E são duas coisas distintas, mas que podem parecer iguais. Uma coisa afirmar e dizer se eu sou capaz, tu também és e atribui todos os teus defeitos para que a pessoa ganhe "vergonha" e faça algo. Outra é falar de um exemplo da sua vida, e deixar que a pessoa aplique na vida dela esse exemplo, sem culpas, sem inferioridades, sem vergonhas. É procurar na pessoa, o que deve ser trabalhado. Se ela gosta de X, incentivar esse X. Mas percebo que dê trabalho. Nunca ninguém disse, que as amizades são fáceis e não precisam de manutenção. Dão trabalho, devem ser cuidadas, trabalhadas. E temos de ver o outro como ele é, e aceitar. Ajudar, independente de essa pessoa ser o oposto de nós. Independente da nossa vontade de dar um abanão. Somos todos diferentes, todos com tempos diferentes. Mesmo feliz, porque as outras pessoas conseguiram, não se consegue deixar de se sentir, uma bela merda, depois da comparação feita.
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