O retorno

Ontem cheguei a casa cansada, troquei de roupa, calcei os chinelos e fui para a cozinha fazer o jantar. Hum...bacalhau à Gomes Sá..preparo tudo para fazer...e raios falta-me a cebola. Como é que eu deixei acabar as cebolas?! Dou por mim num misto, não quero saber da cebola e vai assim mesmo...ou então o melhor é fazer as coisas bem feitas. Que raio, ter de ir às compras só por causa de cebolas. E ter de me vestir, de calçar as botas...tudo me parecia doloroso, cansativo. Mas fui. Contrariada mas fui.De tennis. E o destino tem destas coisas. Era noite e eu no continente a comprar cebolas, dou de caras com a Sandra. A Sandra é só a pessoa que mais contribui para o projecto solidário, aqui onde vivo. A mulher está sempre atenta à página e contribui regularmente. Eu devia ter cara de poucos amigos, meia rabugenta e ela com o seu sorriso, chama-me pelo nome e diz-me: Era mesmo a ti que eu queria encontrar...então não é que tenho aqui as compras para o projecto. Agradeci, combinei com ela no estacionamento...porque afinal não comprara só cebolas, só pão, só fiambre...é uma lista. Há sempre mais alguma coisa. Vou ter com ela, ela entrega-me mais não sei quantos sacos e muitos litros de leite. Desfaço-me em agradecimentos, pelo carinho, pela boa vontade. Reparo que a Sandra está grávida...como é que nunca tinha reparado? Não sei. Mexi na barriga, um vicio meu, e irritante para outros, bem sei. É uma menina. Falou dela, da sua família e senti nela uma dor, uma tristeza no olhar. Perguntei-lhe o que se passava. Explicou-me que faz um ano em Abril que perdeu uma bebé de 8 meses. No dia de Páscoa, a menina não se mexia. Foi ver, não tinha batimento cardíaco. A Sandra teve de dar à luz. Pior, teve de estar uma semana com a filha sem vida dentro de si. Dois dias depois do parto, fez-lhe o funeral. Disse-me que tinha de ver o rosto dela, e que era perfeito. Eu gelei. Tudo em mim era vontade de a abraçar de a acarinhar. Explicou-me por isso que tem medo do que o futuro lhe reserva. Disse-lhe que isso todos nós temos. E que vai correr bem, só pode. Porque quando fazemos o bem, uma coisa é certa iremos ser recompensados por isso. E precisamos de acreditar nisso. Nem que seja para aguentar o amanhã. A Sandra com esta história de vida, é uma pessoa cheia de amor, cheia de boa vontade para com os outros...preocupada, humana. Uma pessoa muito especial na minha vida, que se cruzou por acaso, mas por quem tenho muito apreço. E só pode correr bem. E eu fico assim pequenina perto de mulheres como ela.

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