"Pudor, isso, pudor"
"Há quem julgue que o
pudor só serve para medir a altura das saias, mas é também uma bela
palavra que nos aconselha o recato com os sentimentos fundos. Ontem, na
TVI, Marcelo Rebelo de Sousa deu os parabéns à comunicação social pela
forma como cobriu a morte do filho de Judite Sousa. Eu não dou. Uma mãe
perder um filho não sei o que é, é-me indizível. Indizível, mesmo, isto
é, não sei dizê-lo. Não conheço pessoalmente a Judite Sousa, se fosse
amigo dela tentaria encontrar as palavras poucas, ou mais provavelmente o
silêncio, que lhe fizessem saber a minha dor envergonhada pela tamanha
dor dela; se me cruzar com ela, baixo os olhos como se deve aos pais que
perderam um filho; se fosse colega dela, não programaria uma reportagem
sobre como sobreviver à dor de perder um filho, usando outras mães
dolorosas, abusando delas e de Judite Sousa, como fez a TVI minutos
antes de perguntar a Marcelo como se comportaram os jornais e as
televisões. Se eu mandasse num jornal e conhecesse a Judite Sousa a
ponto de ir ao funeral do filho dela, não faria as indecentes capas que o
Correio da Manhã tem feito sobre a morte do filho de Judite
Sousa. E o meu pudor maior nem seria com Judite Sousa, mas com o filho.
Uma celebridade, na morte, talvez tenha de aturar algum abuso à sua
privacidade. Mas ninguém pode ser desapossado do direito de ser alguém e
passar, na morte, a ser o filho de uma celebridade."
É de lamentar.
Retirado daqui.
É de lamentar.
Retirado daqui.
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