Sexta tive um fim de dia desagradável, muito. Não gosto de pessoas que se aproveitam da pretensão que nos conhecem, para terem o direito de dizer o que lhes apetece. Agarradas a um fundamento, para que nada lhes tire a razão. Foi uma conversa surreal. Eu não sabia se havia de rir ou de chorar. Uma farpa e de seguida um sabe que é sempre com a melhor das intenções. Outra farpa. Engraçado, estou a ficar mais velha e isso faz-me ficar mais calada. Antes era muito mais refilona, sempre de resposta na ponta da língua. Se bem, que não sabia o que dizer. Fui apanhada de surpresa. Não sei que tipo de intimidade dei, nem sei que tipo de confiança existiu, que permitisse acontecer o que aconteceu. Fiquei sem reacção. Com um mau estar interior. Senti-me mesmo, mesmo mal, incomodada, triste, irritada, desiluda com aquela pessoa que estava à minha frente. Numa conversa a três, apenas duas participavam e não era eu nenhuma delas. Eu era a bola uma bola que saltava de um lado para o outro. Em 36 anos, nunca na vida me senti assim. Talvez porque não tinha nenhuma fragilidade. Hoje tenho. O meu filho. E através dele quererem chegar a mim. Magoa muito. Sai de lá de lágrima no olho. Engoli a seco. Não falei durante horas. Fiz, resolvi o que tinha a resolver, todas as minhas tarefas e tentei ignorar. Mas não consegui. Magoou-me muito, demais. E chorei. Sozinha, para que ninguém percebesse o quanto é que aquilo me afectara. Passei o sábado sempre com aquela conversa na minha cabeça. E sem conseguir processar tamanha barbaridade. Pior, eu cedi a essa barbaridade. Pior ainda coloquei-me em causa! E ainda pior, não tinha conseguido contar a ninguém, alguém que me ouvisse. Felizmente tudo tem uma razão de existir, e numa viagem longa, em que se correm todos os assuntos, saiu uma pergunta sobre o porque de eu estar muito calada, fui largando aos poucos e devagarinho contei. Percebi na cara de choque de quem me ouvia, que não tinha exagerado no achar que era tamanha barbaridade. Que existia uma razão de me sentir assim. Não por acreditar no que me disseram, mas na maldade com que o fizeram. E falei, falei, falei. E senti-me melhor. Consegui processar. Aliviar. Libertar este peso em cima de mim, que me consumia. Bons amigos são assim. Chego a casa, tenho lá outros amigos, os melhores do mundo, e penso como a vida é boa, e sinto-me eternamente grata. Ainda a medo, devagar, consigo aliviar mais a carga, e começo a sorrir. Felizmente a sorrir, uma característica minha. E ri, ri muito para não chorar. E vejo o quanto as pessoas são más. Muito más.

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