O meu Natal, em jeito de balanço

Foi bom. Enquanto nada nos falta, é sempre bom. Quer dizer falta sempre alguma coisa, no nosso intimo temos sempre algum desejo. Eu tenho o meu. Mas o meu desejo é difícil, não há dinheiro que o compre, não há como o alcançar. Talvez por isso tento não dar importância, mas que dou e que finjo não dar. Penso que no global foi bom. Rodeada de gente, de pessoas que me querem bem, rodeada de família e amigos. Gostaria muito de poder oferecer coisas que não se compram em lojas e que de facto não se compram. Gostaria de ofertar a minha mãe mais ânimo, esperança, saúde. Gostaria de ofertar ao meu Miguel algo que pudesse sarar a dor que sente, talvez oferecer-lhe um novo amor. Por norma sou pequena perto dele, ontem senti-me ainda mais pequena, ouvi-lo falar, perceber e sentir o que sente e nada pude fazer. Oferecia-lhe talvez paz interior. Ofereci-lhe o meu abraço, profundo sentido, de quem o quer pegar ao colo, apesar dos seu quase 2 metros. Este ano fica-lhe marcado no coração. E rezo para que passe, rápido, porque afinal tudo passa. Gostaria de oferecer saúde à minha Lúcia, que a maldita dita que não te larga, te deixe viver muitos anos com o teu filho. Gostava de estar fisicamente presente em sítios longe, muito longe, que só de falar ao telefone me sabe a pouco. Nada se equipara com o calor de um abraço. Gostava de ser melhor pessoa, de me fazer entender aos outros. Gostaria que não nos tivéssemos distanciado, e distanciamos tanto que não vivi o nascimento do teu primeiro filho. E isso, mesmo que assobie para o lado, entristece-me. Gostaria de oferecer a uma pessoa algo de muito bom, mas ainda não consegui definir o que, porque teria de ser algo espectacular como ela. E esta foi uma das razões do meu natal ser tão bom. Ela foi o meu presente de natal. Chegou devagarinho, foi ocupando espaço, e fomos tendo pontos em comum, fomos crescendo nesta amizade. Sou uma pessoa que raramente é surpreendida, talvez porque seja perspicaz, talvez porque seja difícil como alguns dizem (penso que não) mas há muitos e muitos anos que não o era, este fui. E só me ocorreu, é suma sacana! Acho que em 36 anos de vida, este foi a única prenda que não tinha aberto, por norma abro antes nunca espero e foi deveras uma das mais engraçadas. Parecia uma miúda. A sério, há pessoas que nos conhecem há tão pouco tempo, e fazem-nos surpreender. Estas pessoas ficam marcadas em nós. Fazem-nos sentir queridas. Mas como se oferecem prendas a pessoas únicas, pessoas inspiradoras. O que se oferece? Para ela tudo é pouco. Eu, neste natal fui mimada. As amigas, uma que me manda pastas de atum, outras que me dão pulseiras com amor, outra relógios. Outras que me abraçam, me olham nos olhos. Outras que tomam pequeno almoço no dia 25, e fazemos em jeito um balanço, que damos abraços. Outras que trocam mensagens depois da meia noite e mostram que a amizade é algo de importante, o bem querer. Sou uma pessoa de afectos, de abraços, de sentir calor no outro. De boas conversas de duas horas, com quem está longe, de rirmos feitas perdidas. De ter a casa cheia de gente, ter de fazer 2 máquinas de loiça, para ser utilizada ao jantar. E se eu tenho loiça. De sentar no sofá e adormecer automaticamente. De constatar que sou uma exagerada na quantidade de coisas que faço. Prolongar o natal nos dias seguintes, até que a comida acabe. Ligar a televisão e estar a dar o sozinho em casa, clássico. No pensar e sentir que me falta algo, mesmo assim olhar em meu redor e ver que a vida é boa para mim, mesmo com as suas amarguras. Só posso ser agradecida. Que presente posso eu mais pedir? Família, amigos, amor, partilha, risos, conversa, bom vinho, boa comida. Muitos mimos, abraços do meu filho. A alegria dele em receber presentes, maior alegria em ter as pessoas em casa dele. Ter miúdos a brincar, desmontar o quarto inteiro, colocar cds dos caricas a tocar, cantar e dançar. Perceber que tenho ali um bom menino, que dá valor às pessoas, aos laços que nos unem e vê-lo a convidar um a um para jantar no dia seguinte. A felicidade dele. É um bom menino. De facto sou uma felizarda, foi um feliz natal.

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