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setembro 29, 2015
Gosto de saber que não sou a unica a pensar desta forma.
OS GORDOS E OS OUTROS por Sofia Fonseca Costa
“Se fosses magra, eras perfeita.”
Assisti, à semelhança de outras pessoas, a um programa dedicado aos gordos adolescentes. Esta foi a frase que me ficou na cabeça. Entre lágrimas deles, que ainda não entenderam muito bem a razão do excesso de peso. Não entenderam também por que razão (válida) não têm amigos, namorados ou não saem à noite. Assumiram, a dada altura, que os comentários jocosos que lhes dirigem são absolutamente verdade e que a perfeição está em ser-se magro. Devem conhecer poucos magros, porque eu – confesso-o – sei de alguns que são perfeitos: perfeitos anormais.
Os gordos são de tal modo marginalizados que, quando se fala deles, é sempre com eufemismos e diminutivos. Gordinhos. Fofinhos. Espaçosinhos. Poucos são os que ousam tirar o eufemismo. Não há gordinhos. Nem fofinhos. Nem coisinhos. Há gordos. Um gordo é todo aquele que tem, não excesso de peso, mas excesso de gordura. É a gordura em excesso que dá origem ao excesso de peso. Conheço alguns. Principalmente algumas. E parcas são as que se sentem bem com o corpo que têm e que levou anos a chegar onde chegou. Não é de um dia para o outro que a balança acusa três algarismos. Nem tão pouco é porque nos apetece.
A verdade é que comer é bom. E tudo o que é bom quer-se sempre mais; seja na comida ou noutro campo.
E a auto-estima? Está-lhes maioritariamente em saldo negativo.
É também verdade que a obesidade é uma doença. Faz parte do grupo das que não são contagiosas e parece que poucos o sabem, principalmente os outros que não são gordos. Ora muito me espanta que só os magros sejam boas pessoas. Só os magros prestem. Só possamos andar de mãos dadas com magros. Só possamos dizer publicamente que é de magros que gostamos. E que a perfeição jaz nos magros. Ainda mais espantada fico que nos preocupemos tanto – em demasia até – com o peso dos gordos e nada com a parte emocional. Senão vejamos: os gordos sentem tanto como os magros; os gordos fodem tanto como os magros; os gordos beijam; os gordos são tão pessoas quanto os magros; os gordos existem – e ocupam espaço – como os magros. E, (es)pasmem-se, há gordos felizes.
O excesso de peso e de gordura não deve ser colocado em primeiro lugar como ponto a trabalhar. O essencial, e o mais importante, é não nos escondermos atrás de máscaras. É não chorar à noite porque ninguém gosta de nós. É aprender primeiro, e acima de tudo, a lidar com as nossas fraquezas e imperfeições de tal modo que não tenhamos medo de enfrentá-las. É entender que não importa o que dizem sobre nós, desde que façamos e tenhamos a capacidade de dar o melhor que temos em todas as situações. É conseguir ver para além do que os olhos nos mostram e com isso perceber que todas as pessoas são imperfeitas. É isto que nos torna especiais. Deixar queixumes na gaveta. Entender que é possível emagrecer, mas por nós, e não pelos outros.
Só depois de tratada a ferida emocional constante se deve partir para o emagrecimento. Tanto gordos quanto magros. Gordos emagrecem o peso. Magros deviam emagrecer o preconceito.
Eu sou gorda. Não sou gordinha nem fofinha. Nem preciso que ninguém me diga o óbvio: é preciso emagrecer. Somos o que somos. Ninguém faz nada por nós, apenas acompanha o caminho. E tanto para gordos como para os outros o caminho é longo. Mais longo para os outros. O excesso de peso trabalha-se com exercício e alimentação. O preconceito é viral e esse sim contagioso. E escusam de vir com falsos moralismos que “gordinho isto, gordinho aquilo” e rebébébéus ou blablás que não quero saber.
Todos sabemos quais as consequências físicas do excesso de peso. Poucos se aventuram a entender o que se passa, muito antes das consequências físicas. A componente emocional é pouco valorizada. É urgente gostarmos de nós acima de tudo, de todos, e só depois disso trabalhar para melhorar o que nós próprios entendermos. Sejamos gordos ou magros. Um dos amores que move montanhas é o próprio e quase ninguém tem a ousadia de conhecê-lo.
Há gordos felizes. Eu sou uma delas e todos os dias trabalho para melhorar o que julgo ser o adequado, principalmente incrementar o amor-próprio. Ainda bem.
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