Isto dos abraços

É qualquer coisa que se sente, que não se consegue explicar. São todos diferentes. Há o abraço de despachar, há o abraço sentido de vontade de partilha (o meu preferido), há o abraço que nos incomoda, há o abraço que nos assusta, há o abraço que quase ameaça o nosso porto seguro, aquele que se demora muito desmoronamos. Há muitos. E eu gosto muito de abraços. Dos sentidos. Daqueles que gostam de falar por si. E tenho medo daqueles, que me querem fazer falar. Ontem recebi um abraço do Fernando, do Fernandinho como lhe chamo. Era um abraço de felicidade. Senti isso, a felicidade e o agradecimento. Quando abraças e a pessoa quer continuar abraçado, em que tu achas que o timing de deixar de abraçar chegou, mas não...É genuíno. Senti-o feliz. E vim tão feliz para casa, pelo bem que ele me ofereceu. Pela felicidade dele, que eu trouxe comigo. Ficou feliz por receber alimentos para a sua família, por receber as prendas do Padrinho. Dizia-lhe que se não gostasse podia trocar. Responde-me que ia gostar de certeza. Padrinho este, que vou ficar para sempre agradecida. Ofereceu o que ele precisava e mais. Ele está muito agradecido e eu também. Tem um bom coração este sacana. Algo que sempre soube. O Fernando recebeu ontem um casaco de inverno de gorro, de um amigo meu, que nem sequer tinha chegado a usar. Os olhos do Fernando brilharam. Ontem disse-me por mensagem, que estava muito agradecido, e que o casaco lhe servia na perfeição, mas que só abria as prendas do padrinho no natal, é justo. Ontem, quando iamos de carro para o almoço do natal, perguntei pelas notas. Não são famosas. Eu percebo porque não são, mas fingi que não percebia. Expliquei-lhe que temos de aproveitar as oportunidades que a vida dá, e se ele pode estudar, deve estudar apesar de todos os obstáculos. Pode não gostar, mas tem de o fazer, se quer ter um futuro melhor. Falei de mim, dos meus, de todos. Dei exemplos. Sim, fui chata. E vou ser sempre. E disse-lhe "Fernando quero que melhores no segundo periodo e não espero menos de ti. Podes não ser brilhante, mas tem de perceber que tens de te esforçar para passar e que devagar chegas lá, mas tens de chegar. Não há outra opção." Ele sorriu, diz que sim. Que tem de passar de ano, que pensa em seguir um curso de panificação e pastelaria, e diz que até já faz bolinhos. Um miúdo com 12 anos. Quero ver isso, foi a minha resposta! Fiquei de comprar os ingredientes e ele de fazer um bolo de cenoura e com chocolate. E prometeu-me que se vai esforçar na escola. E eu acredito. Acredito sempre naquele sorriso sincero, de quem muito esconde, pouco fala, mas que tem um coração bom.

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