Sou boa, no que toca a por as pessoas de parte e outras coisas espectaculares

É o que eu mais tento contrariar. Faço um esforço e penso várias vezes. Se há coisa que eu sei fazer bem, de forma eficaz, é cortar de raiz, qualquer relação. De um momento para o outro é como se a outra pessoa deixasse de existir. Já o fiz várias vezes. Já me arrependi outras tantas. Já tive razões para o fazer. Outras vezes fui muito parva em o fazer. Mas nem sei como explicar, desligo. Quando acontece algo que mexe comigo, e eu não gosto, ou chego a um limite, corto, cego. Deixem-me que vos diga, que isto, não é nada bom. Ás vezes nem o faço conscientemente. Outras sim faço, outras não. E magoou as pessoas. Sou má. Sou fria. Não é bom ser-se assim. E é uma coisa que contrario o mais que posso. Perdem-se anos de vida, perdem-se amizades, por mal entendidos, às vezes por coisas que se podem resolver na hora com uma conversa. Também não sou boa a digerir as coisas na hora, tenho pelo na venta. Tipo furacão. A idade vem mostrando, que esta nossa alienação aos que nos são próximos, também não se faz. Temos de nos colocar no lugar dos outros. Ninguém é perfeito. E às vezes não há outra opção. Cada um terá as suas razões. Devemos tentar falar sempre ou ouvir. Já referi que sou teimosa. Retomei uma amizade que deixei de falar durante de 15 anos. 15 anos, a idade de uma pessoa. É muito tempo. Porque me magoaram, e não vi nada à frente, nem quis perceber mais nada. Cortei. Não respondia a telefonemas a nada. A nada. A vida juntou-nos, falámos. Percebi tudo. Foi verdade que me magoou, mas percebi o lado dela...não poderia ter ouvido ela naquela altura? Não ouvi. Perdemos muitas coisas uma da outra. Ela é só uma das pessoas que eu mais amo. Por exemplo, fez anos ontem, dei-lhe os parabéns hoje. Está longe, montei um vídeo, e troquei o dia...troco sempre o dia, porque não o tenho apontado.  Sim, sou esse tipo de amiga. Que passa o dia, e liga no dia a seguir. Que é capaz de montar a festa toda, serpentinas e confetis, ter um trabalho do caraças e o aniversário já passou ou é só para a semana. Sou despassarada. Dei os meus parabéns. Posso dar-lhe todos os dias. Todos os dias lhe mando um whatsapp a dizer o quanto a adoro, e o quanto me faz falta. 15 anos depois fui vê-la a kms de distância. Abracei-a com saudades de anos e muitos lamentos. Lamentámos as duas. Mas temos vindo a aproveitar. Mas também sou o tipo de pessoa que não aprende à primeira. Eu repito algumas vezes a mesma coisa. Burro velho, não aprende línguas. Este fim de semana, foi novamente a mesma coisa. Recuperar devagar alguém, com quem cortei radicalmente. Expliquei. Não sou melhor pessoa, quando mexem comigo, com os meus. Não tenho discernimento, para quem me magoa. Quem me quer magoar e seja quem for, um ou dois eu não divido, misturo tudo e todos. E doa a quem doer.  Sou crua. Por vezes. Fria. E levam todos. E erro, que sei. Erro. E lá está a vida, coloca-nos feitos piões. Tinha um jantar, mas quis ir dizer olá a um pessoal. Passei num café, só para dizer olá...quando vejo 30 pessoas, levanto a mão e digo olá...dar 60 beijos...não é a minha onda. A pessoa em questão, que alienei,  a minha amiga que sempre senti como minha, que ela própria confirmou se sentir minha amiga também, me diz, olha lá mas não falas porque estou aqui. Isto foi tipo rastilho, festas de carnaval, aqui vai bomba. Rebentou. Eu que não sou de ficar calada. Falei. Falei tudo. De coração aberto. Porque acho que só assim faz sentido. Pedi desculpa, se a magoei, mas não consigo mesmo, quando estou magoada, quando sei o que pode vir a acontecer, ser melhor pessoa, não consigo. Comigo, com os meus, ninguém mexe. A minha forma de lidar é afastar essa pessoas,  como se afastasse o problema. Fui má, injusta, mas não quis saber. Mas foi como lidei. Não sei. Disse-lhe abertamente tudo o que pensava, percebi que nem sempre as coisas são exatamente como nós pensamos, e que se temos noção que não temos o discernimento necessário, e que se vamos magoar, temos de nos colocar no outro lado, coloquei-me e não gostei. Acho que correu bem. Sinceramente acho que me soube-me bem. Nisto de abrir o coração às pessoas, expor-nos tem um risco associado. Tenho medo. Já me dei muito mal. Muito. Já fui ignorada. E custou-me muito. Já me fizeram sofrer um pouco. Mas nunca me arrependi. E já me dei muito bem. O que compensa tudo o resto. E a prova disso, foi um telefonema que fiz no domingo. Dando seguimento a uma coisa que tinha feito também de coração e quando fazemos uma coisa de coração não tem como dar mal, quando é de boa intenção tudo corre bem,  falei com a pessoa em questão. Também uma amiga. Uma pessoa que estava perto, mas longe de mim. E senti-a ali, verdadeiramente perto de mim. Falámos verdadeiramente. Verdadeiramente, sem ser de circunstancia. Falámos de preocupar e de bem querer. Disse-e todas as coisas, que me disse, desde que nos conhecemos desde gente. Desliguei. E senti-me feliz. Descansada. Por mais boa que seja no afastar, talvez esteja a ficar  melhor no reconquistar.