Páro o carro, entra o miúdo. Arranco. Como estás, amor? Bem? Sim, diz-me ele. Dou-lhe sempre a mão. Preciso sempre de contacto. Reclama sempre. Óh mãe, tens a mão fria. Respondo prontamente, que é por isso mesmo, preciso que ele me aqueça. Vamos numa boa conversa. Estaciono o carro. Começa a guerra. Quer sair pela porta da frente, mas depois o melhor é sair pela bagageira. Sério? Miúdo, as pessoas ainda pensam que te trago aqui. Ele ri-se. Vai a correr para a porta. Mãe, quero marcar o código. Está um crescido, já chega lá com a pontinha dos dedos. Marca o código, e depois tira o papel das promoções do supermercado. Fazemos uma corrida pelas escadas acima, e grita primeiros, numa partilha para todos os vizinhos saberem que ele foi o primeiro. Começo a fazer as coisas do dia a dia. Ele tira o casaco, senta-se na mesa dele. Descobriu a tesoura e a fita-cola. Cortou algumas coisas, vem ter comigo e diz:
- Mãe estive a pensar, e queria para a páscoa este ovo do faísca. Já escrevi o meu nome. (Estava escrito a verde, para ele tudo é verde e só verde.) Mãe, preciso de escrever o do Vasco, o da Maria, o do Sebastião, o da Isabel.
- Quem é a Isabel?
- Uma menina, que é minha amiga
- Tiago, a mãe não pode comprar ovos para todos, não seria melhor fazermos algo? Umas bolachas de chocolate? A mãe compra-te ovo que tu queres... Será que a mães deles não vão comprar um para cada um?
- Ok, mãe. Um ovo para mim. Corta, corta, corta, corta, corta. Fazemos biscoitos? Podemos fazer coisas boas.
- Mãe gostas de café?
- Sim filho, porquê?
- Está aqui. Toma.
Dá-me um quadrado de papel, era um pacote de café. E lá ficou ele a recortar o que lhe dava mais jeito. A ele e a mim.
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