"um bongo um bongo o bom sabor da selva"

O mundo é de facto uma ervilha. E de facto há pessoas que ficam gravadas para sempre em nós, mesmo que sejamos pessoas pequenas, não de alma, mas de idade. O Zé, era um miúdo calmo e pacato. Muito calmo. Era não sei se é, porque não o vejo há muito, mais de vinte anos. Tinha o cabelo loiro encaracolado, olhos claro. Passávamos tempos a brincar no quarto dele, e lembro-me de jogarmos ao jogo do Bongo e cantarmos aquela lenga lenga toda. Lembro-me da mochila branca com letras rosa da Yoggi. Lembro-me de um ir a um aniversário dele. Lembro-me de coisas espaçadas, era muito miúda, tanto que quase não me lembro de tudo com definição. Não me recordo da tua mãe, mas sim do teu pai. Do teu pai diácono, dele sentado num sofá de um lugar, de olhos fechados a meditar e mãos unidas apoiadas na testa. Recordo-me dele assim. Recordo-me dele, sereno, bem disposto, boa pessoa, amigo, atencioso. Uma pessoa de bem e que não só o apregoava, como praticava. Deixei de te ver, quando ele partiu. És sem dúvida a imagem do teu pai. Sem dúvida que ele vive em ti. E só de ter visto uma fotografia, soube logo que eras tu. E todas as lembranças voltaram a mim. Como cresceste e bem, e feliz. Tenho certeza que és um orgulho, para ele e todos os outros, como para mim.

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