Daquelas surpresas boas

Este fim de semana, com começo à sexta, foi bom. Daqueles ocupados, daqueles que juntam amigos, de diversos grupos. Daqueles que nos comprovam, de que a amizade é o melhor desta vida. Mas há coisas do caraças. Isto do destino se assim se quiser chamar. Sou pessoa de me por a pé cedo. Deito tarde e levanto-me cedo. Não que não goste de ficar na cama, a fazer ronha, porque gosto, mas depois olho para o relógio e penso no tempo desperdiçado. Deitei tarde sábado, levantei cedo. Tinha de ir comprar umas calças de fato de treino ao miúdo e coloquei o despertador para as sete e meia. Para acordar devagarinho, para ir tomar o pequeno almoço. Para ir ao continente, com ele vazio. Gosto de fazer compras, com o mínimo de pessoas. Do género, tudo só para mim, silêncio e zero confusão. Gosto, e acho que herdei isso da minha mãe, que criou esse hábito em mim. Reparo que os brinquedos estão em promoção, penso se vale a pena comprar prendas de Natal, repenso se é mesmo necessário. No meio de toda esta análise e com a cabeça na lua, vejo uma pessoa que me é muito querida. E que não via há muito. E que tinha perdido o contacto. A minha Piteira. Dizer que gosto dela é pouco. Muito pouco. Ela sempre foi, para mim, aquela mãe que se tem, no caso de não ter a minha. Foi minha professora, há tantos anos que já perdi a conta. Falávamos imenso nas aulas, fora das aulas. Almoçávamos juntas. Jantávamos juntas. É uma pessoa com bom astral, boa onda. Consciente de muitas coisas, preocupada, interessada, boa ouvinte. Um doce. Que a guardo no meu coração, sempre e para sempre. Olhei para ela e soltou-se um oh meu amor! Um amor grande. Abracei-a durante um bom tempo, afaguei-lhe o rosto, passei a mão pelo cabelo grisalho. Abracei-a vezes sem conta. Sem me perder, nestas coisas dos carinhos, pedi-lhe logo contacto. Falámos, como se não tivesse passado 10 e tantos anos. Falámos de tudo e de todos. Como uns estão, onde andam os desaparecidos. Eu sou como o elo de ligação, entre uns e outros. Entre os professores, entre os alunos. Houve alturas que me cansei, cabia-me sempre a mim, marcar alguma coisa, tratar de tudo. Mas o cansaço já vai lá longe. Agora voltou a saudade, a vontade de rever pessoas que são muito queridas. Numa conversa boa, de risota, de cumplicidade. Saudades da minha Emília, do Saraiva, da Piteira. Professores, pessoas, desta gente que ficou gravada em mim. Que fazem parte da minha pessoa. Uns que me ouviram, outros que me pouparam, outros que me expulsaram da aula, outros que me fizeram chorar, outras vezes rir. Abraça-la soube-me a pouco, é sempre assim com as pessoas que gosto, tudo me sabe a pouco. Gosto muito dela, para lá de muito. Por ser um doce com todos, por ser boa pessoa, por ser preocupada em ajudar, por ser ela perfeita de imperfeições como todos nós, mas com um toque de meiguice. Há quem diga que a nossa família é escolhida por nós, ela foi por mim escolhida, para fazer parte dos meus. Ela não o sabe, mas penso que o sente. Foi bom, tão bom que me soube a pouco. Como sempre sabe.

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