Sábado foi muito bom. O domingo foi delicioso. Não me posso queixar, é um
facto. Tenho quem divida comigo sobremesas, tenho quem me envie
sobremesas e tenho quem me descreva como faz as sobremesas. Tenho quem
me ligue, talvez porque me sinta do outro lado, e me faça rir até ficar
em lágrimas. Tenho pessoas terríveis à minha volta, essa é a verdade.
Terrivelmente preciosas, bondosas. Embora, no sábado passado, pela
primeira consegui transformar um estado de alegria, num profundo
silêncio, sem sequer me aperceber. Já transformei silêncios, em risotas
audíveis, o contrário nunca. Desde que a minha mãe faleceu, que há uma
estrada que não sigo. A do cemitério. É uma estrada de atalho, que
sempre usei. Mas por causa não sei do que, deixei de usar. No sábado, já
tarde ou bem cedo, na óptica de cada um, opto por um outro atalho, para
não passar naquela estrada. Sóbria, sim, porque vodka preta, corta o
efeito do BSE, demos com uma estrada cortada, e tivemos de voltar atrás.
Risadas boas, conversas boas, e eu sabia em mim, que teria de passar
ali. Demos a volta, passamos, e no nada saiu-me, a minha mãe está ali.
Depois de olhar, o ali era um cemitério. Estranho, pensava que tinha
falado em jeito de desabafo, baixinho só para mim. Mas não. Por
momentos, tudo se tornou num silencio insuportável. Senti necessidade de
dizer que estava tudo bem, que tinha falecido, e que a vida é mesmo
assim. Repeti, em modo repeat, tudo o que digo todos os dias, em jeito
de me convencer. Ela estava ali, à chuva e só. Só que ali, está o corpo.
E começo a dissecar e sinto-me ausente, de um presente feliz.
Convenço-me do que não estou convencida. E apanho a boleia do amor de
cada um, de cada um que me segura a mão, em jeito de me convencer e de
me apoiar. E como disse, nunca é tarde para reaver os antigos, para ter novos, desde que sejam verdadeiros e únicos. "Be yourself; everyone else is already taken."
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