Exactamente isto
"Somos sós...numa sociedade só?
Tem companhia?
Tem quem o oiça?
Sente-se ouvido?
Quando precisa de alguém, tem?
Tem amigos?
É amigo?
Gosta de estar só?
Que caminho vamos nós caminhando enquanto sociedade, na companhia ao próprio, ou ao outro? Que tempos temos para dar a nós mesmos, para que tenhamos essa presença, a presença junto da família alargada, dos amigos próximos, de si mesmo...
A
nossa sociedade constrói-se cada vez mais de um espaço onde se existe,
supostamente numa vida montada em facilidades novas e modernas. Temos
máquinas para quase tudo, temos carros que nos levam de um sítio para
outro numa velocidade incrível, temos sítios onde conseguimos tratar de
muitas coisas ao mesmo tempo, temos a vida organizada em blocos de tempo
de forma a podermos trabalhar, cuidar do corpo, comer, dormir, ser
feliz...
Será?
Será que é assim mesmo, que no meu dia da vida gerida dessa forma,
compactada ou super-organizada, conseguimos ser, existir, ir além do
fazer e do ter?
Será que nessa organização para a busca do El Dourado da felicidade suprema, existimos de forma plena? Será que conseguimos SER?
Temos
nós neste estar de sociedade actual...espaço para termos companhia?
Vivemos mesmo em sociedade no sentido de grupo, ou vivemos em solidões
disfarçadas de um mundo tecnológico de companhias virtuais.
Estaremos a ser criados, desenvolvidos em "galinheiros" emocionais,
onde o "Olá, estás bem?", passou a ser o bom dia de antigamente. Em que
a resposta nem sempre vinha, ou nem sempre se queria saber, fazia-se
apenas por uma questão de educação...será que queremos mesmo saber? Será que se o outro quiser dizer, que não, eu tenho espaço em mim para ouvir?
Eu não me sinto, na maior parte das vezes capaz, de viver uma vida socialmente activa, sinto que os meus tempos são raros, e que é com grande gestão, mestria que consigo de alguma forma, quase malabarística, gerir o "outro" na minha Vida...mas, recuso-me a ceder, e a deixar que este vazio colectivo, de alheamento às pessoas que os outros são tome posse de mim, do meu ser social, que eu sei florir na presença humana.
Nós somos seres que necessitamos do contacto, do afecto, do toque, do saber sentir e de sentir em nós a imensidão de afectos que pertencem ao grupo das emoções que só se obtém através de, e nas, relações.
Nós existimos sem o outro?
Eu
acho que não. O outro é o espelho de mim, e às vezes a voz do bom senso
que me retribui uma imagem de mim, mais doce, mais fiel, mais inteira. O outro comprova-me que eu estou cá, que há razões maiores, para além de mim, para estarmos todos por aqui, nesta caminhada célere, agreste...bela, profícua, intensa, vida em si mesma.
Sentir solidão, não é estar só, é estar vazio. (Sêneca)
Eu não estou vazia, nem quero estar. Não
quero redomas, não quero aquários, ou laboratórios experienciais, quero
tempo, quero saber gerir a Vida, para saber que não vou só, que não
estou só, que não sou só.
Daqui.
A grande questão, na minha opinião, é que muitas pessoas que perguntam se estamos bem, não estão preparadas para ouvir um não. Aliás, temem o que vem depois desse não, por não terem tempo ou paciência. E muitas vezes, por saberemos que a pessoa não teve intenção de perguntar o que perguntou, fingimos, mentimos, e dizemos que sim.
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