Eu acho que tenho muita sorte, no fundo é isso

Isto de se ser patrão, empregado e a relação entre ambos, têm muito que se lhe diga. Muito mesmo. No outro dia, fiquei a saber que um patrão que aprendeu a gostar de mandar, mas que não sabe o que é ser patrão, andou a mostrar mensagens de um empregado, que não lhe tinham sido dirigidas, a amigos desse empregado. Primeiro, acho que anda aí uma moda, de mostrar mensagens que só tinham como destino uma pessoa e essa pessoa toca de mostrar a todos. Para ter razão? Para mostrar que é melhor, quando ainda faz mais merda? Não percebo, talvez porque não seja desse tipo. Felizmente. Como estava a dizer. Um patrão, que joga conforme lhe dá jeito, hoje interfiro, amanhã não interfiro. Consoante dá jeito. Bem isto para mim, não é ser patrão. Ou se assume como tal, ou então fica quieto. E há que saber dizer as coisas pela frente. Não se diz ao empregado A que é despedido porque recebe um ordenado avolumado e vai-se contar aos amigos do empregado A o oposto . É feio. Virar as pessoas umas contra as outras, ainda pior. Contudo, referia-me apenas à mensagem, em que a pessoa que nunca recebeu a horas, que passavam 15 dias depois do mês, era sempre obrigada a pedir o que era dela por direito. Vergonhoso. E foi essa mensagem, onde a pessoa pede o que é dela, que foi causa de indignação. Espera, só o facto de ter pedido o que é dela, devia ser vergonha para a entidade patronal. A discórdia é, mas isto envia-se para um patrão? Não, porque só são amigos para as caralhadas, para pisar, para ir para a noite, para os copos. Certo. E também nisto que eu tenho muita sorte. Eu morreria de vergonha, em ter de pedir algo que eu precisasse e que era meu por direito. Teria vergonha da minha entidade patronal. Eu recebo sempre dois dias antes do fim do mês. Nunca tive de pedir ao meu patrão o meu ordenado. Seria demasiadamente vergonhoso para ele. Porque estamos a falar de um direito do próprio. Trabalhou, recebeu. E não só, recebemos dois dias antes, como nunca foi recusada a ajuda a nenhum trabalhador. Nenhum. Receberam mensagens, emails, mas não foi a pedir para lhes pagarem o que lhe era devido. Não. Alguns porque têm problemas, outros porque ficaram sem carros em acidentes, etc. E as mensagens, passa por estou aflito, preciso de ajuda. E é feito o possível, na medida de cada um e até se adiantam subsídios. Porque de facto somos uma empresa humana, há patrões humanos, que não gostam só de mandar, e muito menos humilhar, são gente e gostam de ajudar, são preocupados com os trabalhadores. O mesmo posso eu dizer, em relação a mim. Com uma mãe doente, que precisa de andar no médico, nunca me negaram nada. Nem sequer para atender também ao meu filho, que tenho direito, mas nunca me olharam de lado, como muitos. Ainda hoje marquei o dia de sexta, porque tenho uma consulta inesperada do meu pai. Foi me dito que sim, sem hesitar. São patrões duros, são. São patrões que sabem dizer não, são. São patrões que me tiram do sério, são. Mas são muito humanos, são pessoas que não tiram a dignidade a ninguém. Que respeitam. São pessoas que sentem. São gente. E é isso e por isso que de facto tenho muita sorte. Porque ser só patrão, não é saber dizer que é patrão, é saber ser. Isso são poucos os que sabem. E ainda conseguimos sair e ir para os copos. Tenho sorte.