Quando pensamos que hoje é só mais um dia

Hoje acordei bem disposta, cansada a noite fez-se longa, mas bem disposta. Dou seguimento ao ritual, miúdo entregue com bolachas de natal, feitas na noite anterior, sigo para pequeno almoço. O mesmo de sempre, não há novidade, nem se estranha, as mesmas pessoas, mesmos hábitos. Trinco a torrada, começo a mastigar e o meu pai partilha comigo a noticia sobre o falecimento de uma senhora muito querida, a mim e aos meus. Fiquei sem conseguir engolir mais nada. Zero. Consegui a custo engolir a primeira dentada. E foi só. Mantive a conversa dentro do normal, causas da morte, como ela era uma querida, uma avó para o meu filho. Tudo a transparecer normalidade, porque não quis perturbar quem de facto já não anda bem. Vim embora. Com um sufoco na garganta que ainda não passou. E chorei. Não sou boa a perder ninguém. A bem da verdade, ninguém o é. E eu não sou boa nisto do perder e do aceitar que quem amamos se foi. E fico lixada, magoada, e penso que esta vida não é justa. E fico com um nó na garganta. Hoje vivo uma dualidade de sentimentos, uns que partem, outros que nascem, outros que renascem, fazem anos. Pessoas importantes. Todas num só dia e com razões diferentes. Celebra-se a vida e chora-se a morte.

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