Ilusões


Nasci tarde. Os meus pais desejavam muito uma menina e arriscaram em ter-me. Tenho portanto pais com uma idade avançada. Uma idade que a mim começa a assustar.
Não me lembro de ter um avô ou avó. Sei que um estaria vivo, quando nasci. Mas não me lembro dele, não o sinto. Desde miúda que adoptei a avó Ondina, que já aqui falei. A minha avó emprestada. Todas as pessoas deviam ter tido avós, sentir o seu cheiro, ver o seu sorriso, receber o seu amor. Dizem que o amor de avó é a duplicar, ser mãe duas vezes. Todos deviamos ter direito a essa recordação, a essa parte da familía, a essa vivência.
Desde pequena que não lido bem com a morte, a perda. Não gosto de perder nada, nem ninguém. E houve coisas que sempre me foram intristecendo, que foram sempre amedrontando.
Para afungentar esse tipo de receios, criei sempre ideias próprias, sempre deduzi como seria o futuro e mais ou menos o que me esperava. Poderia não ter tido uma avó de cabelos brancos, mas sabia que um dia teria a minha mãe. Imaginei-a alegre, bem disposta, saudável, arisca, divertida...de cabelos brancos, pele enrugada e de bengala na mão. Como a minha avó Ondina era.
Sempre pensei nisso dessa forma. E o quanto eu seria feliz.
Infelizmente enganei-me.

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