Gloss

A caminho do trabalho, coloquei o gloss, só para dar mais algum animo a este tempo chato. Lembro-me sempre da altura em que comecei a utilizar o meu primeiro gloss. Tinha 14 anos, era um gloss com sabor a morango, roll-on e o frasquinho era de vidro. Comprava sempre na mercearia ao pé de minha casa. Nesse verão levei-o comigo para as férias no Douro. Todos os anos ía passar o Agosto ao Douro e andava encantanda porque andava enamorada.
Esse ano, o gloss tornou-se uma arma preciosa...como era (e ainda sou) timida, o rapaz porque quem estava enamorada começou a trocar cartas comigo. A primeira carta que lhe enviei beijei-a com o meu primeiro gloss, devo ter visto num filme...não sei. Mas queria que ele percebesse que aquele beijo era meu. Nunca lhe dei um beijo, nem na bochecha, nunca falei com ele mais que um olá. Eu sou assim, quando gosto fico calada, mas se falo é bom que não oiçam, não bate a bota com a perdigota. Como estava a dizer, beijava as cartas que lhe enviava e começei a receber as dele também com beijos. Os beijos das cartas dele eram vermelhos e aquilo intrigava-me, mas ele pinta-se?! Fez-me alguma confusão na altura. Como trocávamos mensagens pelas irmãs dele, a mais nova confidênciou-me que ele a obrigava a pintar os lábios e a beijar a carta. Lindo!
No dia em que fomos à missa, ele deu-me a mão e foi a única vez que nos tocámos. Nunca me irei esquecer da suavidade da sua mão e do que senti. O verão passou enamorado e feito por cartas. No último dia, deixei as cartas num muro de pedra (gravado na memória) porque pensei que seria engraçado encontrá-las no ano seguinte (só podia andar a ver muitos filmes). Só regressei dois anos depois e o muro tinha sido cimentado e com ele todas as cartas.
Senti tristeza e alguma raiva pela minha própria estupidez. Pelo facto de não ter guardado como recordação aquele meu tesouro, por ser assim tão timida e não ter sido directa. Ou porque ele tinha nessa altura uma namorada e eu o coração partido. Não sei bem...

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