Tenho saudades. Muitas. De te ver. De te cheirar. Fecho os olhos na rua, para te imaginar a chegar nela. Lembro-me de tantos, tantos pequenos grande pormenores. Hoje, infelizmente só hoje, sei o quanto é duro fazer o nosso melhor pelos filhos. Até porque o nosso melhor, pode não valer de nada, pode nem sequer proteger. Pelos filhos damos o corpo à tortura, à dor. Por eles, sorrimos, por eles tudo vale a pena. Hoje, só conheço um verdadeiro amor, o de pai/mãe e filhos. Verdadeiro, só existe esse. Os outros são ilusões, que se perdem no tempo, que se tornam em pó. O amor, o amor de laços que perduram no sangue, de quem pariu, de quem ama sem parir, são para todo o sempre. Hoje, infelizmente só hoje, soube o quanto pouca filha fui. Não é lamento. É confissão. Podia ter sido tão mais. Hoje, e infelizmente só hoje, sei o que dói ouvir algumas coisas dos nossos filhos, quando enfrentamos o mundo de frente, cheios de medo. Mãe, deste-me colo do bom, e eu nem percebi. Protegeste-me e eu nem notei. Não gostaste da minha escolha para casar e aceitaste. Choraste muitas vezes, por saberes que iria ser infeliz para a vida. E assim foi. Lamento não ter sabido partilhar mais.Lamento não ter sabido. Lamento ter vivido a ilusão que tinha tudo controlado. Lamento não ter sabido o quanto me protegias, o quanto sofrias, mesmo eu mentido, mentindo muito. Gostaria muito de te dizer isto tudo pessoalmente, porque já o disse muitas vezes de voz alta. Como é que uma mãe aceita o caminho escolhido pela filha, quando ela sabe que a mesma irá sofrer. É preciso ser uma grande mãe...como tu, eu seria fraca. Eu não deixaria viver...não deixaria crescer, não deixaria que se magoasse. Deixaste-me e cresci, à força. Tenho muita pena e um lamento profundo, que não te possa abraçar. Porque ver, eu sei que vês. E sei que estás a cuidar de mim, se assim não fosse, nada poderia acontecer como aconteceu. Tenho vergonha do quanto te julguei, do quanto julguei os meus. Tenho tanto para aprender. Queria muito que visses, que soubesses que lamento não ter pedido a tua opinião. Apesar de a mesma ter sido sempre muito importante para mim. Tenho te umas saudades infinitas. Sei que cuidas de mim, mas a falta de um abraço corrói-me por dentro.
Amo-te muito. Agradeço-te tudo. Mesmo quando me amaste como uma filha ingrata. E este é o grande e único verdadeiro amor, amar sem contrapartida, amar como somos, cheios de imperfeições. Obrigada Mãe. Por tudo.

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