Espinho que cresce no meu coração

sobram apenas restos de mim
quando se ouve, o que há muito não se quer ver
por ele, tão pequeno e já tão grande
tentei ser um polvo
tentei ser perfeita, omnipresente
tentei tapar todas as falhas
tentei tudo
tentei ser tudo
tentei minimizar tudo
dei tudo, numa força hercúlea
anulei-me profundamente, convicta num bem maior
Falhei
um dia chorou no meu colo, com uma dor de desilusão
um dia disse-me que no coração do pai, não havia amor para ele
um dia pediu-me para ter outro pai
um dia, num passeio com um primo, pediu-lhe se o podia chamar de pai
nesse dia, com ele nos meus braços a chorar
uma dor que conheço, uma dor que se avolumou, que me engoliu 
obriguei-me a ser adulta
mordi o lábio, vezes e vezes sem conta, para não lhe mostrar que eu também sei o que ele sente
nesse dia, confortei, sem conforto
um dia fiz um esforço, para não chorar com ele, para não chorármos os dois a mesma dor
um dia algo em mim morreu
com sorte, não morri eu de tristeza
mas o que resta de mim neste momento, são apenas meros batimentos cardiacos
porque de mim, sobram restos, sobra a mágoa, sobram noites de lágrimas
de quem tudo tentou, tudo fez, mas que tudo foi em vão
Foi ma grande desilusão