Pai e mãe também sentem, são gente com coração incluido



Eu acho uma treta aquela ideia de criar os filhos para o mundo e adeus. Não se espera nada desse filho, porque ele foi à sua vida. Acho uma treta. E por mais que me digam que é o natural, as pessoas com que falo, tem imensas saudades dos filhos. Choram por falta de contacto dos mesmos. Sofrem por não serem lembrados. Acredito que criamos os filhos para o mundo, que criem a sua família, mas que incluam os pais. Porque eles também sentem. Eles não são um artigo antigo, colocado de lado. Nem sempre pensei assim. Hoje fui ao pão. Como vou todos os dias. Encontrei uma amiga da minha mãe. Todas as amigas da minha mãe, me tratam por filha. Então filha como estás? Explico que todos os dias vou ter com o meu pai, de manhã. A pessoa em causa, olha para mim, como se fosse a filha mais amorosa do mundo. És tão especial, diz-me ela. Sou uma pessoa cheia de falhas. Mas pergunta-me, achas que há muita diferença entre ter meninos ou meninas? Notei nela, alguma tristeza e dor, por não receber afeto dos filhos. É um crime. Eu longe da perfeição. Muito longe. Expliquei, que vou todos os dias ter com o meu pai, porque sei que um dia não o poderei fazer. O mesmo era com a minha mãe. Ia tratar da higiene dela, às vezes cansada, às vezes criticavam-me...mas eu sabia que não era para sempre, infelizmente. E hoje, só eu sei as saudades que tenho de lhe lavar o cabelo. De a abraçar. De ver se estava tudo bem com a pele dela. Disse à amiga da minha mãe, que às vezes nós filhos somos egoístas. Às vezes andamos perdidos na nossa vida, e damos como garantidos os pais. Que eles estão sempre lá. Que nem é por mal. Acho que não tem a ver com o género. Tem a ver com a personalidade de cada filho, cada pessoa.  E disse, se não lhe ligam, ligue você. Não há mal nenhum pedir atenção, querer receber afeto. Nenhum. É melhor do que guardar ressentimentos. Expliquei-lhe que eu sempre me identifiquei com o meu pai, e sempre choquei com a minha mãe. Até achava que não tínhamos nada em comum....nada ou pouco. Hoje sei que não é assim. Eu sou a minha mãe. Despachada, resolvida. Ela não pedia nada a ninguém, resolvia tudo dela e de todos. Uma mãe que resolvia o mundo com um sorriso, e a tristeza abafada dentro dela. Hoje sei o muito que ela era para mim. Porque tenho falhas, no meu dia-a-dia, e era ela que as preenchia. A minha mãe era muito, muito importante para mim. E tinha-lhe um amor desmedido que desconhecia. A minha mãe era a melhor pessoa do mundo. A melhor. Mas como expliquei à amiga dela, às vezes andamos perdidos e não temos noção. Somos imaturos, egoístas. Às vezes só quando perdemos. Vi-lhe a tristeza e não gostei. Claro que os filhos tem de ter as suas vidas, tem de ser bem-sucedidos seja lá o que isso for. Mas devem estar par a par com quem os criou, e não se esquecerem deles. Porque eles sofrem. A minha mãe sofreu certamente pelo meu distanciamento, pela minha imaturidade. E como tal, os pais devem ligar, devem falar. Devem acalmar o seu coração. Devem deixar de sentir que são um móvel em desuso. Dei-lhe um abraço, desejei-lhe força. Vim a pensar no quanto amo a minha mãe. E que adorava que ela estivesse comigo. Adorava ligar-lhe. Adorava dizer-lhe o quanto ela foi e é importante para mim. E por isso vou todos os dias ter com o meu pai, porque pai e mãe só há um.


Comentários

Mensagens populares