Esta cena que nos é incutida, de sermos mães perfeitas, tem de acabar. As mães não são tudo e não dão para tudo. São muito, mas não tudo. Fico chocada, com respostas da mãe é mãe, percebes?! Não, não percebo. Dá para haver pai? Dá para existir um pai? Isto afinal é um projeto a dois ou não? Quando acaba o machismo? Quando? Ou quando nasce o amor pelo filho, em vez de um crescer absurdo narcisismo? Não percebo. Esta merda de pressão para se ser mãe, mulher perfeita, dona de casa exemplar, exerce em nós coisas não muito boas. Ficamos frustradas muitas vezes. Eu fico. Porque não consigo ter a casa arrumada, porque não consigo estender a roupa, porque tenho de fazer jantar, porque há banhos para tomar, porque há trabalhos da escola para fazer. Mas eh pá tens de ser uma mãe cool, e eu tento. Sim também fazemos plantações, também já tentámos ter bichos de estimação. Chego a casa e pareço a doida lá do sítio. No caminho, vou planeando o que posso fazer ao mesmo tempo. Não há cá só uma tarefa, tipo são todas ao mesmo tempo. Apanhar a roupa, check,  por o comer a andar, check...e no meio pergunto-lhe como foi o dia. Falo com ele. Damos a mão. Mas não consigo o cool, tipo 100%. Gostava de sentar-me com o puto, ouvir as histórias dele. Depois olho para o relógio...ai caramba que amanhã para te levantares vai ser uma dor de cabeça. Toca a correr. E chamo-o mil vezes, mil. Eu já contei! Devem ser 1001 vezes. Faz isto, faz aquilo. Olha que não vais ali, não vais fazer aquilo …sou uma peste. Às vezes penso que falo numa língua diferente da cria. Tipo chinês. E a vida corre em nós. Porque somos mães a full time. Mas também somos mulheres. Que ficam lá atrás. Às vezes ainda tento puxá-la pelos cabelos, ainda tento incutir algum bom senso...mas sem efeito. A gaja está perdida e sem solução à vista. A vida própria que nos é subtraída tem um efeito negativo. E gerir isto tudo, gerir emoções, gerir um filho, gerir uma casa e contas...não é pera doce, nem amarga, não é pera. E não, não sou mãe solteira. Mas sinto que o sou e respeito muito quem é. E às vezes, depois da história contada, dentes lavados, a cria dorme...e eu desfaleço um pouco. Devaneio. Choro por não conseguir ser a mãe cool, sem stress. Por não conseguir ter ajuda. Por não conseguir fazer com que percebam o obvio. Vejo-o a dormir e rezo para que eu dure muito, para que tudo valha a pena. E penso na minha mãe. Nas saudades imensas que tenho dela, que de dia para dia pioram. Bolas mãe, como preciso de ti. Ai se eu soubesse, muito colinho te tinha pedido. Muitas vezes estaria juntinho a ti. Amo-te muito, e penso que o saibas, porque falo contigo algumas vezes. Muitas mesmo. No meio disto, cozo o fato dele de carnaval, porque está grande, e eu quero entregar os papéis de uma mãe cool... tipo há os minimos. E depois descanso, deito o corpo, porque sei que de manhã bem cedo o piolho está a pé, há pequenos-almoços para preparar, roupas para pendurar, coisas para tratar. E volta a correr em mim o horário, o tempo. Corre muito. E só dou conta de mim, quando algo me dói. Quando não há mais volta a dar. Às vezes ser exigente, é uma grande merda. Mesmo. Porque às vezes não conseguimos mais, não sabemos mais. O que me conforta é que o sol nasce todos os dias, e todos os dias, tenho partilhas de coisas boas, sorrisos, abraços. Tenho um pequeno ser que todos os dias me pergunta como foi o meu dia. Mesmo que não seja uma mãe 100% cool, mesmo que seja atabalhoada, será sempre para o melhor dele. Mesmo que o faça sozinha. Porque vale muito a pena. Hoje e sempre.

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