De muitos amores que tenho, um deles a Lina

A minha querida prima Lina, partiu. Quer dizer, ela não partiu. Ela está bem ao meu lado, ao lado de todos aqueles que a amam. Da filha, da neta. Ela apenas tirou a roupa, esta roupa feita de pele, de carne. Este envelope. Ela foi brilhar para outro lado. Tenho a certeza, que está com a minha mãe. Que tanto a ama também. Sou fraca. Sou aliás bastante fraca. Sou boa de fugir. Da dor, do medo, da perda. Fuga para a frente. A minha prima estava na casa ao lado da minha. Eu fugi sempre de ir lá... Sempre. Ia a medo. Fui poucas vezes. Custava-me imenso, ver uma grande mulher, lutadora, merecedora de tanto, reduzida assim. Reduzida a nada. Passei a noite a ouvi-la chamar todos, um a um. Senti o quanto estava agita. Senti que ela estaria de partida, porque já tinha visto aquela instabilidade na minha mãe. Fui para casa, e sentia o coração apertado. Sentia que precisava de lhe dizer o quanto a amava. Mas sou fraca, e repetitiva. Sou fraca. resistia a ir. Resistia a ser conivente com este destino cruel. Quando ia a sair, dei um recado à minha tia, e oiço ela a dizer, entra, entra. Entrei. Respeirei fundo e entrei. Sentia em mim um enorme desejo de lhe dizer o quanto a amava. Eu sentia, que tinha de lho dizer, que tinha de me despedir dela. Peguei na sua pequena mão, comparado ao corpo disfigurado, e chamei-a de meu amor. Olá meu amor, sabes que te amo muito? Sabes que te tenho um amor enorme, e que serás sempre um grande amor para mim?

Ela responde, eu sei.

Fiz-lhe festinhas. Disse-lhe para descansar. Disse-lhe até amanhã.

Ontem não a ouvi a noite toda, e percebi que algo não estaria bem. Eu sabia, sentia-me aflita, no sábado, e só me senti assim, quando foi com a minha mãe.

Ela partiu.

Partiu rodeada dos dela, com a certeza do quanto era amada. É amada.

O que me dói, a partida claro, mas o facto de ter sido deixada em fase terminal.

Mas que raio, de homens são estes, que abandonam as mulheres em fase terminal?

É o segundo caso que conheço.

Qual foi a parte, na saúde e na doença?

Só ouviram a saúde??

Custa-me.

E Custa-me muito.

Porque a minha prima trabalhou imenso, sujeitou-se a tantas coisas, por um objectivo em comum na vida, com alguém. E esse alguém, abandonou o barco.

Não se faz.
Não sei o que será mais cruel, a doença, ou este tipo de atitude criminosa.

É triste.

Amo-a tanto.

Queria tanto que o destino tivesse sido diferente.

Vivi tantas coisas boas com ela, sorrimos, rimos, dançámos.

É daquelas pessoas que fazem parte de nós, que vivem em nós.

E tenho a certeza que sempre viverá.

A vida dá voltas, e o destino é estranho. A minha prima sempre quis ser enterrada num sitio, e só é possivel, porque tem lá um familiar, a minha mãe. 

A minha mãe que sempre cuidou dela, em vida.

Não estranho.

Sei que estão juntas, pelo amor que tem em comum.

Esta música, será sempre a minha prima, que partiu cedo de mais.