Acordei super cedo. Uma semana antes, arrumei tudo,
lavei tudo o que era edredons, almofadas, lençóis. Preparei a cama. Chinelos.
Toalhas acabadas de lavar com cheiro a amaciador, lavanda é cheiro a casa. Ao lado um conjunto de tudo o
que precisasse e fosse necessário. Gosto de receber bem. Mas adoro retribuir.
Eu amo, quem me ama. Eu dou a quem me dá. Todos os que me rodeiam, são uma
extensão de mim. Quando soube da sua viagem imprevista, comecei a
hiperventilar. Sei que a atenção é sempre dividida pelos outros. São muitos. E
eu sou egoísta, assumo. Eu quero tudo só para mim. Não é que eu não saiba partilhar,
mas há alturas que um colinho sabe bem. Esta pessoa, eu nem sei explicar o que
é para mim. Eu nem sei bem colocar em palavras. Ás vezes sinto-a como mãe,
outras como irmã, outras sinto-a eu própria. Ela é a âncora da minha vida
passada, que não me deixa afundar nesta vida presente. Ela lembra-me quem sou,
quem fui. Se implicamos é normal. Se às vezes somos injustas também. Tudo faz
parte. No entanto tenho um medo enorme de um dia deixarmos de ser amigas. Como
ela diz, não sei como me aturas? E eu digo o mesmo. É um amor que transcende tudo e todos.
Um carinho de bem querer. Fiz montes de planos para um dia, que passou a dois.
Queria fazer tudo e mais alguma coisa. Ficámos a falar noite fora, uma
adormecia quando a outra estava no auge, e vice-versa. Nós não damos
tréguas...quero falar, tens de me ouvir....parece o lema. Acordamos cedo.
Levo-a aos meus sítios. Rimos muito. O meu riso com ela, é tão bom. Tão
diferente. É o riso que tenho com as minhas, o meu núcleo duro, uma delas
também minha irmã do coração, com um sorriso divinal. Mas esta. está longe. E o
longe afeta-me. Eu sou do abraço. Do toque. Passei o fim-de-semana a apresentar
a minha amiga às pessoas. Passei o fim-de-semana a falar, falar. A rir muito. Mesmo.
Tenho-lhe muito amor. Tenho muito orgulho na pessoa que se tornou. Tenho um
agradecimento enorme por me aturar. Levei-a ao mercado, passou-se. Adorou. Riu,
riu muito. Confidencia-me que eu lhe dou vontade de voltar. Quis ver egoísta e
dizer, volta. Calei-me. Comprámos tomate coração boi, abacate, e figos. Fomos passeando.
Compramos frango assado, porque é algo que não come regularmente. Apostámos no
churrasco. Uma coisa tão simples e banal para uns, e tão especial para outros.
Rimos, rimos muito. Abraçámos a vida. O nosso coração parece só um. No dia
seguinte, sentindo a hora da partida chegar sabia que iriamos chorar. Eu penso sempre, mas
sempre....que quando vou ter com ela, pelo menos um dia choro, de facto não
acontece. Porque nos contemos às vezes. Mas no dia em que a deixei, chorámos
feitas duas parolas. Chorámos abraçadas, rios imensos. Presos em nós, há tantos
anos. É bom, muito bom quando podemos ser nós próprios. É bom quando nos amam,
quando retribuem todo o amor que lhes damos. É bom quando dois se tornam um. É
bom, aconchega o nosso coração, quando nos querem bem. Quando nos surpreendem.
Quando nos ensinam. Quando nos visitam, só porque sim. Isto é amor, no seu estado puro. Somos um.
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