Tento exorcisar em mim, o que me dói
Não há ambulância vermelha que não me lembre dela, do dia fatal. Comecei a odiar ir aquele hospital porque foi lá que ela me deixou. Recuso-me a ir, a visitar alguém. Antes era um sitio grato, o nascimento do meu filho, hoje para mim representa a perda, a dor. E custa-me muito todo o caminho que faço para lá. Custa-me para caraças. Dá-.me vontade de chorar. Dá-me vontade de praguejar que tudo isto é injusto. Hoje foi um dia de exorcisar a dor que está em mim. Hoje visitei um ser que nasceu. Uma pequena vida que muito faz feliz a todos. A maternidade não me é indiferente. Passei por mães recentes, por bebés, andei a desejar felicidades a todos, dar os bons dias. É bom, vidas novas. Sorrisos. Muito bom. Peguei no pequeno ao colo, uma pena de tão leve. Que bom. Saio, venho trabalhar num misto de emoções que quero contrariar. Ali vive em mim a dor, que teima em ficar. E nasce em mim a felicidade como uma flor delicada. Não sei como seria, ou como será, se um dia tiver um filho, depois de ter perdido um dos meus suportes de vida. Não sei.
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