Dou por mim com falta de paciência para cozinhar. Como me aconteceu isto? Eu que adoro cozinhar, que passava horas na cozinha, que vivia à volta de receitas, agora simplesmente não me apetece. Não tenho vontade. Dou por mim, mais afastada das pessoas, talvez selecione melhor com quem me dou. Já não me dou como antes. Dei por mim, a fazer conversa de circunstancia, com alguém que gostava e considerava amigo. A desilusão apoderou-se de mim. Era pessoa do sorriso aberto e fácil, abraço dado e hoje não sou assim. Hoje resguardo-me. Hoje olho para alguém e lembro-me de tudo em flashback e penso, que não, não vou dar de mim. Isto veio à lembrança, quando passou por estes olhos, algumas pessoas a demonstrarem afeto. Algo que prezo muito e que acho muito bonito de ver. E fiquei a pensar, há quanto tempo não faço, ou com que regularidade o faço e quem são as pessoas que me rodeiam. Parece que me sinto fechada, desapontada com o mundo. Sem dúvida que só recebemos se dermos, ou só podemos esperar se damos. Não sejamos hipócritas, ninguém dá sem esperar. Ninguém gosta de estar à chuva, já molhado. Há sempre uma réstia de esperança. Eu acho. Mas sinto que algo mudou em mim. Sei perfeitamente quem são os meus. Sei perfeitamente o que esperar. E isso aborrece-me um pouco. Gosto de receber afeto, quando não estou à espera. Mas também sei que não posso receber, o que não dou. E tenho dado muito pouco. Vou empurrando com a barriga, talvez por muitas desculpas, ou algum cansaço. Empurro. Sinto-me cansada e sinto-me a mudar. Seleciono cada vez mais, e temo que isso não seja positivo. Não sei. Deixei de ser.
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