Tudo me distrai

 

 

 

É a casa para arrumar, o jantar para fazer. O que fazer? A correria do dia a dia. O telemóvel. Os mails que leio, os que me passam ao lado. O levar e entregar o bichinho. O lavar e o passar. O comprar e analisar. Ajudar, perceber, chegar, fazer. Pequenos almoços, almoços. Os amigos. Os inimigos, menos amigos. A família. Os que precisam de mim. O amor. A falta dele. A alegria. O porque de querer mais. Querer férias. Desejar e planear férias. O chico e o nemo. Os meus anos, os anos de todos. O Sol, a chuva. Querer ir ao parque, ir à praia. O preço dos livros. Uma música no rádio que me faz viajar. O dizer fica para amanhã. Ir jantar àquele sitio. Ir a Lisboa ouvir Jazz. As borboletas que andam no céu e deviam andar cá dentro. O roque santeiro. Concertos. Gelados de caramelo, ou brownie de chocolate. A dor, a mágoa. Minha e dos outros. As contas. A luz a aumentar. O dinheiro que não se consegue juntar. O dinheiro que se quer gastar. Pensar. Pensar. Abdicar. Hoje menos mal. Querendo todos os dias estar melhor. Pensar nos 36. Pensar no futuro. Nos sapatos do puto. Nas roupas que ficam pequenas. Nas recolhas e entregas. Na depilação. A barba do Meireles. Tudo me distrai, mas há algo que me chama à razão e me faz perceber o que de facto é importante, o meu grande amor.